Uma vez por ano é possível visitar o Castel Sant'Angelo de noite.
Este monumento romano, que já é muito sugestivo de dia, se
transforma num verdadeiro cenário e nos proporciona uma viagem no
tempo que inícia na primeira metade do II século, para sofrer
transformações sob outros imperadores e papas até a oficialização
como museu nacional, no início do século XX.
A região escolhida pelo imperador
Públio Hélio Adriano para a
construção do seu mausoléu foi a zona do antigo
Ager Vaticanus,
nas proximidades de vários terrenos que pertenciam à família do
Nero, perto da Via Cornelia e da Via Triumphalis - região em que
existia uma necrópole onde um personagem que ainda ganharia muita
atenção na História, um tal
Pedro da Galiléia, tinha sido
enterrado no ano 67.
O poderoso tambor de 64m de diâmetro que vemos hoje enfeitado com um
anjo de bronze no alto foi uma construção de inspiração oriental
e que, apesar da aparência, tem pouco em comum com o mausoléu de
Augusto; a origem semelhante de ambos é evidente, a
Necrópole Etrusca da Banditaccia, muito apreciada por um homem culto como
Adriano; mas a verdadeira inspiração desta contrução é o
Mausoléu de Cária, nas margens do mar Egeu.
Basicamente, o mausoléu era originalmente uma estrutura piramidal
composta por um grande retângulo que servia de base para o tambor,
sobre o qual tinha sido realizada uma pequena colina artificial de
terra que abrigava um pequeno bosque de ciprestes, que por sua vez
servia de base para um segundo retângulo de dimensões bem menores
do que a base e sobre a qual tinha sido colocada uma grande imagem do
imperador sobre uma quadriga de bronze. A altura do chão até à
quadriga era de ~20m. Curiosidade: os dois pavões que você vai ver
no pátio da pinha, nos Museus Vaticanos, faziam parte da decoração
deste monumento.
Brasão em opus sectile
Como quase todas as construções que vemos hoje em Roma, despidas do
revestimento marmóreo original, este monumento não é uma exceção:
sobre o peperino e opus caementicium,
tínhamos o mármore lunense (que hoje conhecemos como mármore
de Carrara) e o famoso mármore local, o travertino.
Aposentos papais, Imperador Adriano
Para chegar na imponente construção, Adriano também mandou
construir uma ponte, a ponte Hélio, única e também monumental via
de acesso a partir do antigo Campo Marzio. Passar sobre esta ponte
hoje (re-batizada de Ponte Sant'Angelo) pode ser considerada uma das
maiores emoções da visita à cidade de Roma.
Silos, Castel Sant'Angelo
Na direção do Vaticano, existe o “Passetto”, corredor elevado
realizado sobre os muros do IX século da Cidade Leonina e que
liga o Castel Sant'Angelo ao Vaticano; percorremos ~1km de extensão
até chegar num portão de ferro, onde não ousamos ultrapassar, pois
poderíamos ser atacados pelas guardas suíças, ao invadir o
território Vaticano!
O grande barato é que ainda podemos entrar no Castel Sant'Angelo e
caminhar com nossos próprios pés sobre parte da construção
original e ver a reforma realizada pelos imperadores e sucessivamente
pelos papas, que a transformaram em residência principesca, forte e
prisão, a partir do Renascimento.
Silo dentro do Castel Sant'Angelo e a minha mão
A subida no interior do monumento, ao contrário do que se possa
pensar, não é sempre através de escadas, mas inicia com uma rampa,
a famosa “rampa helicoidal”; subiremos 10m de altura!
No alto, abre-se um pátio ao ar livre onde vemos o primeiro anjo
(que foi atingido por um raio) realizado para o monumento, obra do
artista Rafael de Montelupo, escadas e outros ambientes fechados onde
a iluminação noturna das paredes e o céu estrelado nos envolvem em
uma atmosfera surreal.
Maravilhosos e maestralmente restaurados os afrescos dos aposentos
papais e da
Loggia de Giulio II: vemos muitas
grotescas,
como era a moda, e a imagem do imperador Adriano se contrapõe à do
Anjo Miguel e que podem propor uma ligação familiar entre
imperadores, papas, anjos e figuras e vegetação fantásticas nas
cores do talentoso, mas pouco conhecido aluno do Rafaelo Sanzio,
Perin Del Vaga.
Ponte Sant'Angelo de noite
Roma é isso: por estar rodeados por tanta beleza, a
loggia e
a vista que ela nos proporciona é também qualquer coisa de místico
– e aqui me permito de ficar em silêncio alguns instantes antes de
pensar na foto para o blog e prosseguir com a exploração...
Se falamos todo o tempo de um mausoléu, por que é chamado de Castel
Sant'Angelo? E aqui passamos mais uma vez à dimensão eternamente
mítica de Roma, e retornamos ao ano de 590, quando papa Gregório
Magno fazia uma procissão na mole adriana,
rogando a Deus que a terrível epidemia de peste negra abandonasse a
cidade. No exato momento em que o papa sobre seu cavalo
(provavelmente) branco, e toda a população que o acompanhava,
passavam na frente do mausoléu, viram um anjo no céu, Miguel, que
naquele momento decididamente colocava a espada na cintura, indicando
que seu trabalho tinha sido realizado e a graça seria concedida à
cidade de Roma.
E não é que a peste acabou mesmo?!
Daí para frente o mausoléu passou a ser chamado de Castel
Sant'Angelo.
A vista do alto do Castel Sant'Angelo é, de dia ou de noite, uma das
mais inesquecíveis de Roma.
Depois de tantas emoções não nos resta que tomar um café e
admirar o panorama!
Vista do alto do Castel Sant'Angelo de São Pedro
Para o seu roteiro personalizado na Itália com guia em português não hesite em escrever para Guia Brasileira em Roma para pedir seu orçamento.
Marcadores: Bernini, castel sant'angelo de noite, imperador adriano, italia para brasileiros, italia serviços turísticos