Ele se chama Francisco!

Sempre me perguntei por que nenhum Papa tinha desejado ter o nome de Francisco.
Chegamos, finalmente ao dia em que o Papa sulamericano recentemente escolhido quis ser chamado assim!

Este é um breve post que tenta contar um pouquinho da vida do San Francesco. Logo mais, postarei sobre como sua vida mudou ao entrar na Igreja e como ele se aplicou para obter o reconhecimento da sua nova ordem, junto ao Vaticano.

Para quem passa em Roma perto da Basílica de São João em Latrão, faça atenção ao monumento dedicado à vinda de São Francisco à Roma para pedir ao Papa Innocenzo III o reconhecimento da sua ordem!

Foto Basílica S.Francesco d'Assisi, de Nicola Albertini

Também conhecido como "São Francisco de Assis", o túmulo deste santo é um destino de peregrinação de dezenas de milhares de devotos todos os anos. "Guia de Roma Blogspot" realizava uma excursão com Saulo e seus parentes à Assis e Cascia, no mesmo dia em que o Cardeal Bergoglio foi eleito Papa e decidiu assumir o nome pontifical de Francesco, em honra a San Francesco de Assis.
A cidade de Assis, em razão do seu mais famoso cidadão, tornou-se um símbolo de paz.  S. Francisco é o padroeiro da Itália, além de ser um dos santos mais populares e reverenciados do mundo.
Graças ao "Cântico do Sol", Francesco é reconhecido como um dos fundadores da tradição literária italiana.

Francisco nasceu em 1182 , filho de Pedro Bernardone de Moriconi e da nobre Bourlemont Pica, de origem francesa. A família da classe média emergente, viveva entre a cidade de Assis, e Provence (França), por causa do comércio de tecidos de Pedro Bernardone, através do qual tinha alcançado riqueza e bem-estar. Francisco foi batizado com o nome de João (em honra ao apóstolo João) na igreja construída em homenagem ao santo padroeiro na Catedral de 1036. Entretanto, o pai decidiu mudar seu nome para Francisco, incomum para a época, em honra da França, onde tinha feito a sua fortuna.

A casa da família Bernardone era localizada no centro da cidade, dividida em depósito de para os tecidos e comercialização dos mesmos. Pedro Bernardone vendia sua valiosa mercadoria  em todo o território do Ducado de Spoleto, que na época incluia a cidade de Assis.
As hagiografias várias do santo não falam muito sobre sua infância e sua juventude, mas tende-se acreditar que ele foi educado para tomar o lugar de seu pai nos negócios da família.
Depois da escola elementar na igreja de São Jorge (onde, a partir de 1257 foi construída a atual igreja de Santa Clara), Francisco tinha 14 anos e inicou a se dedicar totalmente ao comércio. Ele passou sua juventude entre os aristocratas e nas brigadas de Assis e os cuidados dos negócios de seu pai.

Em 1154 houve uma guerra entre Assis e Perugia. As duas cidades mantinham uma rivalidade irredutível que durou séculos. O ódio cresceu com o fato que  Perugia se aliou aos guelfinos, e Assis, aos guibelinos. Essa escolha levou a cidade de Assis a sofrer uma derrota esmagadora em Collestrada, perto de Perugia, no ano de 1202. Francisco  participou do conflito, foi capturado e preso. A experiência da guerra e cativeiro o chocaram de tal forma que o levaram a um completo repensamento da sua vida, que a partir daí começou um caminho de conversão,  levando-o a "viver na alegria de ser capaz de preservar a intimidade de Jesus Cristo em seu coração".
A guerra terminou em 1203 e Francisco, gravemente doente, depois de um ano de prisão foi libertado quando seu pai pagou uma fiança. Voltando para a casa, ele recuperou gradualmente sua saúde, godendo do conforto material que a sua família lhe oferecia. De acordo com seu biógrafo mais famoso, Tomás de Celano, eram esses lugares isolados da propriedade de seu pai, que contribuiram ao despertar em Francisco de um amor absoluto e total para a natureza, que ele passou a ver sempre com mais intensidade como uma obra maravilhosa de Deus.

Do ponto de vista histórico, as circunstâncias da conversão de São Francisco não foram esclarecidas e temos informações apenas através dos hagiografias (biografia de santos feita pela Igreja). Aos poucos ao desejo frustrado de se transformar em cavalheiro que partia para as cruzadas (considerado uma das maiores honras para os cristãos do ocidente), crescia em Francisco também o sentimento de profunda compaixão pelos fracos, pelos doentes e marginalizados: esta compaixão, mais tarde se intensificou, transformando-se em um "febre de amor" real para com o próximo.

Em 1203-1204 Francisco estava partindo com outros cavaleiros para Jerusalém, quando adoeceu e teve um profundo arrependimento. Mais tarde ele iria dizer que foi persuadido por revelações feitas a ele através de sonhos, em duas noites: no primeiro sonho, ele viu um castelo cheio de armas e ouviu uma voz que prometia que tudo o que ele desejasse, obteria. Na segunda noite, ele ouviu a mesma voz novamente perguntá-lo se ele pensava "ser mais útil seguir o servo ou ao  mestre ". "O mestre ", ele respondeu: "Então por que você abandonou o Senhor, para seguir o servo? '
Francisco renunciou ao seu projeto e retornou a Assis. Desde então, ele já não era o mesmo homem. Muitas vezes, retirava-se para lugares desertos para orar.

Mais tarde, em Roma, onde ele tinha sido enviado pelo pai para vender um lote de tecidos. Com o dinheiro da venda, não só distribuiu o dinheiro entre os pobres, mas trocou suas roupas com um mendigo e começou a mendigar na porta da Basílica de São Pedro.
Sua atitude em relação às outras pessoas mudou radicalmente. Um dia ele encontrou um leproso e, além de dar-lhe uma esmola, abraçou-o e beijou-o. Ele mesmo afirmou posteriormente que não poderia suportar nem mesmo a visão de um leproso até aquele momento, mas depois desse episódio, ele escreveu que "O que me parecia amargo, foi transformado em doçura da alma e do corpo" (Testamento de São Francisco, 1226).

Mas é em 1205 que acontece o episódio mais importante da sua conversão: ele estava rezando na igreja de São Damião, e disse ter ouvido o Crucifixo falar as seguintes palavras três vezes: "Francisco, vai e conserta a minha casa que, como você vê, está em ruínas. "

Depois disso, as ações "estranhas" do jovem tornaram-se ainda mais freqüentes: Francesco pegou uma parte do estoque de tecidos na loja de seu pai e foi para Foligno para vender, vendeu também seu cavalo e voltou para casa a pé, e ofereceu o dinheiro das vendas ao padre São Damião, para que restaurasse a sua igreja. Ao saber disto, Pedro Bernardone ficou furioso, e muitos em Assis ficaram do lado de seu pai, que via desaparecer as expectativas em ver seu filho como seu sucessor nos negócios: Francisco, com sua generosidade excessiva, começava a ser interpretado por seu pai como uma pessoa que dava sintomas de doença mental.

A partir deste fato, seu pai tentou escondê-lo das pessoas. Mas Francisco era teimoso, até que seu pai se sentiu obrigado a denunciá-lo ao cônsul pelos danos materiais que tinha sofrido, para pressionar seu filho a mudar seu estranho comportamento. Francisco, por sua vez, apelou à uma outra autoridade: ao bispo da cidade. O processo teve início no início do ano de 1206 no palácio do bispo e toda a cidade estava presente para assistir.

Assim que o pai de Francisco acabou de falar, Francisco imediatamente se despiu e devolveu ao pai todos os seus vestidos, dizendo: "Até agora te chamei de meu pai na Terra; a partir de hoje posso dizer com toda a certeza que o Pai nosso está o céu, por que nele depositei todos os meus tesouros, minha confiança e esperança." O bispo imediatamente tentou cobri-lo dos olhares do público, sem entender exatamente o que estava acontecendo.

Depois deste evento Francisco deu início a um novo percurso na sua vida e o gesto do bispo foi interpretado como a disposição da Igreja em acolhê-lo.

Segue post "Ele se chamaa Francisco - parte II".

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