São Jorge al Velabro
Na zona em que existe hoje a igreja de São Jorge al Velabro e que alguns
ousariam chamar de “Berço da Civilização”, existe uma igreja
que talvez tenha já sido construída no VI século, provavelmente
adaptando uma antiga “diaconia”, isto é, um lugar onde cristãos
distribuiam grãos e cereais à população carente, provavelmente
coisa que aqui acontecia desde os tempos romanos.
O lugar é fundamental
para a
história de Roma, pois a lenda nos conta que foi aqui mesmo
que a cestinha com os gêmeos
Remo e Rômulo teria vindo parar uma
vez abandonada no
rio Tibre; neste lugar a loba teria encontrado os
gêmeos. Lendas à parte, a razão da fundação da cidade de Roma
teria sido o comércio que existia aqui entre gregos e etruscos, no
famoso “
Foro Boário”, isto é, trocando em miúdos, a feira de
animais da época arcaica. Aqui perto temos a
ilha Tiberina, que
facilitava a travessia do rio e muito provavelmente também
contribuiu à fundação da cidade de
Roma.
Os arredores desta zona
são cheios de história e ainda contém detalhes arquitetônicos e
de engenharia interessantíssimos, como o mais antigo templo que
chegou até nós, o
Templo de Hércules, o
Templo de Portunus e o
Teatro Marcelo e a rede de esgotos do VI séc. a.C..
O que ver hoje nos arredores da igreja de São Jorge al Velabro
Hoje em dia vemos também
dois arcos importantes: o “Arco dos Argentários” (Arco degli
Argentari), que não tem forma de arco mas é assim chamado, e
foi um monumento realizado pela corporação dos trocadores de
dinheiro e dedicado ao imperador Setímio Severo (relevos dele e da
sua família na decoração do seu interior) no III séc. d.C.. e o
arco é o “de Jano”, que provavelmente não tem nada a ver com a
antiga divindade, mas foi um arco que comemorava a vinda de
Constâncio II à Roma.
O interior da igreja de São Jorge al Velabro
A fachada da igreja de São
Jorge al Velabro é diferente da maior parte das igrejas de
Roma por conservar a arquitetura românica no panorama
predominantemente barroco da cidade: é uma visão maravilhosa passar
por aqui durante o dia. No portico podemos ver algumas
aberturas no chão que nos mostram o nível e decoração pavimental
do período anterior à construção da igreja. O campanário é
do século XIII e ocupa boa parte da nave da esquerda, onde existem
alguns fragmentos de esculturas marmóreas que formam uma pequena,
mas quase museal, galeria lapidária, entre as quais o delicioso
relevo da Anunciação a Zacarias, iconografia palestina do IX
século.
O interior é composto por
três naves, ábside e cibório sobre os espólios de São Jorge, que
corresponderia à metade do crânio do santo. As colunas são de
espoliação (isto é, material reciclado de monumentos romanos),
sendo que as duas primeiras da direita são consideradas
particularmente preciosas por serem com canaluras e de mármore
pavonazzeto (um mármore da Ásia Menor que tem estrias que
parecem do rabo do pavão, daí o nome).
O pavimento do altar é
cosmatesco em uma composição pouco comum em xadrez.
O afresco absidal é um
tema controverso. A última teoria nos apresenta um trabalho do jovem
Pietro Cavallini (1288), anterior ao
Coro das Monjas da basílica de
Santa Cecília em Trastevere – logo mais vou falar destes afrescos.
Este seu trabalho representa o Cristo redentor entre a Virgem e os
santos Jorge (à esquerda) e Pedro e Sebastião (à direita) em uma
composição ainda insegura: do ponto de vista da representação dos
personagens e do ponto de vista da habilidade em lidar com as cores.
A igreja sofreu um
atentado no ano de 1993 que destruiu o pórtico, transformando-o em
fragmentos recolhidos em mil caixas logo após um grande restauro,
mas foi rapidamente e inteiramente reconstruída pelas fantásticas
mãos mágicas dos excepcionais restauradores.
Endereço da igreja de São Jorge al Velabro
Via del Velabro, 19
Bibliografia:
Guida Roma - Touring Club Italiano, 1993
Le chiese di Roma, Claudio Rendina, 2010
Aulas Prof. Simona Lupinacci
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