Erice, na Sicília

Erice é uma aldeia a quase 800m sobre o nível do mar que fica perto de Trapani, na Sicília e é tão antiga que é mencionada por Tucídides, Diodoro Sículo e Virgílio.


Vista do Quartiere Spagnolo
 

Erice foi habitada por um povo chamado “élimos” , segundo Tucídides (pág. 357, “Storie”, Tucídides, Ed.Senecio, 2009)
 Foi uma cidade sagrada para os élimos, fenícios (que construíram um templo dedicado à uma divinindade feminina), sucessivamente gregos (que ergueram o templo dedicado à Vênus “Ericina”), romanos e cristãos. Foi habitada por árabes, normandos, svevos e aragoneses.

Subindo para Erice


Em uma das cidades “menos monumentais” da Sicília, isto é, Trapani, mas com uma quantidade enorme de monumentos e cidades antigas nos seus arredores (Erice, Salinas, Mozia, Segesta, Selinunte, Vale dos Templos, e por aí vai), podemos subir os quase 700m de teleférico para visitar Erice, passeio que aconselho fazer durante um dia inteiro, para quem não quer fazer nada correndo.

Vista de perto do Castelo de Vênus e da entrada do Castelo

Vale à pena lembrar pelo menos dois eventos históricos importantíssimos para ajudar a focalizar a importância de Erice no tempo: em 241 a.C., a primeira guerra púnica que aconteceu nas ilhas Égades (logo aqui na frente), com vitória dos romanos, e a estadia em Erice de Frederico III, Rei da Sicília entre 1296 e 1337.

O que ver em Erice?

O Duomo e a Torre de Frederico III
Frederico III viveu assediado em Erice pelas tropas de Roberto d'Angió durante a guerra de sucessão ao trono da Sicília. A Torre na frente do Duomo tem 28m e foi construída por Frederico III. É possível subir na Torre.

Duomo de Erice

O pequeno mas pungente Duomo foi construído em 1314 por Frederico III com material do antigo templo da Vênus Ericina; de fato notamos que a sua fachada fala muitas línguas. A rosácea é moderna (anos '50), e seu interior gótico foi maravilhosamente decorado no século XIX – fachada e teto do Duomo são uma das primeiras razões para visitar Erice, e uma das primeiras atrações a serem vistas pela proximidade ao portão de entrada da cidade.

Teto da nave central do Duomo de Erice

Os Muros Ciclópicos são os mais antigos que ví na minha vida: são do perído élimo, do VIII séc. a.C.. É também possível caminhar no percurso de roda, além de observá-lo nos seus 700m de comprimento. Caminhei ao longo das muralhas, por dentro e por fora, saí e re-entrei pelo portão “Spada”. Curti o quanto pude este muro tão antigo!

Caminhando nos Muros Ciclópicos do VIII a.C.


O Museu “Antonio Cordici” existe na sede atual (um antigo convento) desde 1939; para quem deseja dar de cara com 3000 anos de história em um “concentrado” de poucas, mas importantes peças, vale à pena dar uma olhada. Realmente belíssima a cabeça de Afrodite do V séc. a.C. E os balsamários, peças em vidro realizadas para conter bálsamos ou perfumes. Impressionante a coleção de moedas: da “Sicília Antiga”, às púnicas, romanas, e por aí vai. Maravilhosa a anunciação de Antonello Gaggini, do primeiro terço do século XVI. 

Peças do museu A. COrdici
 
Vale à pena ir ao “Quartiere Spagnoglo” pelo menos pela vista: é deslumbrante. No interior da torre do século XVII (nunca acabada) tinha uma exposição que resolvi pular para ter mais tempo para admirar a paisagem, comer um docinho, ver mais igrejas e... ter meu tempo no Castelo de Vênus.

Igreja de São Martinho, Erice

O que chamamos hoje de “Castelo de Vênus” é emocionante, pois foi um templo tão famoso na antiguidade, transformado pelos normandos em sede administrativa, e no século XIX em prisão! Infelizmente hoje não tem nada mais do antigo templo, apenas a sua memória, partes das fundações, algumas colunas antigas de ordem dórico e a tal “piscina de Vênus”, que os arqueólogos acreditam hoje que tenha servido como silos, para guardar o grão!

Doces típicos de Erice com pasta de amêndoas e pistache

Confesso que neste dia estava tão emocionada que não quis comer nada de muito longo no almoço; foi um sanduichinho rápido, mesmo, para não perder tempo! Mas dei, a este ponto, uma parada para o café com os famosos docinhos com pasta de amêndoas e pistache! Parei na Maria Grammatico, mas acredito que qualquer pasticceria seja ótima!

Típico piso da cidade medieval de Erice, Trapani, Sicilia

Quanto às igrejas, a grande surpresa foi São Juliano, construída em 1076 para agradecer o santo pela vitória sobre os muçulmanos que tinham tomado a cidade. Ao lado da entrada principal o guardião nos mostrou uma antiga capela barroca quase toda destruída, com um lindo crucifixo em madeira – atmosfera incrível deste lugar. 
 Igreja de São Juliano

A igreja de São Martinho também foi construída no período normando, frequentada pelo Rei – interessante o portão barroco com no alto das colunas as almas santas do purgatório sendo purificadas pelas chamas. Interessante a decoração do salão onde encontravam-se os magistrados.

 Os restos do Monastério de São Salvador também são bem sugestivos; hoje em dia vemos somente ruínas, mas a estrutura das fundações (uma série de cisternas) levou à hipóteses que esta zona, que em teoria fica longe do antigo templo de Vênus, fosse ligada ao templo... que então teria ocupado uma enorme parte da montanha! O monastério foi fundado no final do século XIII e, como a maioria dos monastérios, era quase autônomo: as freiras produziam pão para si mas também para os pobres, além dos famosos doces.

A funivia a partir de Trapani custa 9 e o passe para entrar em todas as igrejas, monumentos e no museu €15 - vale muito à pena comprar e não ter que pagar a cada entrada em monumentos!

Marcadores: , , , , ,